O Parque Nacional Aparados da Serra (PNAS) é um dos mais antigos do país, e desde 1959 é o parque que guarda o imponente Cânion Itaimbezinho, talvez o mais famoso do Brasil. Dentro do PNAS estão vários atrativos naturais e muitas riquezas da fauna e flora, características da mata de araucárias e das matas densas de dentro dos cânions, remanescentes da Mata Atlântica.
Entre os pontos acessíveis ao público estão o interior do Cânion Itaimbezinho, as bordas do mesmo, os mirantes das cachoeiras das Andorinhas e Véu de Noiva e observação da fauna e flora nas trilhas superiores.
O Cânion é o principal atrativo do Parque. Suas paredes podem ter incríveis 720 metros de altura e chegam a no máximo 2000 metros de largura em raros pontos. Sua extensão também impressiona, são 5,8 quilômetros de extensão, o que o coloca entre os mais extensos do Brasil. Sua formação derivou da separação da África do Brasil a centenas de milhões de anos, quando ainda se chamava o megacontinente Gondwana.
O entorno do PNAS já é um espetáculo paisagístico e de vida. A precária estrada que leva por 20 km, saindo da cidade de Cambará do Sul até a sede, cruza capões de araucárias pincelados entre as colinas peladas dos campos e pequenos riachos de água cristalina que alimentam rios maiores, quilômetros à frente.
O observador atento pode avistar muita vida nos campos. Além das domesticadas vacas, muares, jumentos e cavalos, as seriemas fazem uma algazarra tremenda nas primeiras e últimas horas de cada dia. Muitas revoadas de curucacas e coró-coró cruzam os ares constantemente. Nos campos, com alguma destreza percebe-se os graxains, e nos locais de parada é muito provável que algum mão-pelada tente roubar alguma comida.
As flores também merecem destaque, são dezenas de espécies diferentes, de inúmeras cores, tamanhos e formatos, sua beleza acaba atraindo um sem número de borboletas e insetos polinizadores que competem com os beija-flores pelo néctar adocicado.
O clima no PNAS, e de toda a borda dos cânions é caracterizado por muita instabilidade. Durante o dia podem ocorrer inúmeras variações. Em questão de minutos o céu azul e limpo pode ser totalmente escondido pela viração e depois voltar a brilhar inclemente. As duas imagens a seguir são do mesmo ponto com diferença de dois minutos. As nuvens se originam da umidade vinda do oceano que encontra obstáculo na serra e forma camadas densas, que podem ser apenas chuviscos ou pancadas de chuva mais intensas. Essa instabilidade se acentua no verão, onde no período da tarde é quase certa a ocorrência de chuvas e também pode ocorrer de a viração ficar a tarde toda impossibilitando qualquer visualização dos cânions. A variação da amplitude térmica é também comum, já que o céu azul do verão proporciona temperatura alta, mas quando a viração aparece, junto com a umidade vem o frio que pode despencar 10º em menos de uma hora. Já nos meses frios que vão de maio a agosto o tempo é mais estável e a viração ocorre com menor frequência e intensidade, em compensação a temperatura pode ser menor que - 5 ºC.
A sede do PNAS fica ao lado da estrada principal que desce para Praia Grande, e o estacionamento está dois quilômetros adentro, já nas bordas do cânion. O acesso se dá mediante a compra de um voucher que em dezembro de 2021 custava R$50,00 e R$80,00 se a opção fosse por dois dias, sendo que um dos dias pode ser usufruído no outro parque, o Parque Nacional da Serra Geral, operado pela mesma empresa de gestão. O estacionamento é pago à parte e custava, na mesma data, R$10,00. O ideal é adquirir os ingressos antecipadamente no site da administradora Urbia Cânions Verdes.
Apesar de parecer caro, a estrutura interna do parque é impecável, além da sinalização, passarelas, mirantes, guarda-corpo, sempre haverá algum monitor por perto, e pessoal apto a prestar primeiros socorros em caso de necessidade. Toda essa estrutura tem um custo, e certamente é o parque nacional mais estruturado que já visitamos. Mesmo que não gostemos de toda essa facilidade, não condenamos, pois sem ela a maior parte do público não teria condições de conhecê-lo.
Dentro do parque é possível fazer três trilhas diferentes e separadas que dão acesso às bordas do cânion ou ao seu interior. Falaremos aqui sobre as trilhas da parte alta. Uma vez que não conhecemos a Trilha do Rio do Boi, na parte baixa, não podemos avaliá-la. As outras duas partem da sede.
Trilha do Vértice
É a trilha mais curta e acessível do parque e pode ser feita inclusive por pessoas com limitação de locomoção, desde que com algum cuidado.
São pouco mais de 1,5 km (ida e volta) que podem ser estendidos para 2 km se o caminhante escolher ir até a casa de tradicional que fica ali do lado, vende algumas guloseimas tropeiras e guarda alguns itens de acervo histórico dos tempos idos na borda dos cânions. No caso da extensão à casa, para quem tem dificuldade de locomoção pode ser um pouco mais complicado pois não tem pavimentação e o chão é irregular.
Saindo de trás do centro de visitantes, a menos de 300 m já tem o mirante do cânion e da cachoeira das Andorinhas, uma queda absurda de mais de 200 m. Desse mirante dá para ver uma pequena fenda que se esgueira entre as paredes do cânion.
Saindo pela esquerda, do mirante, a trilha segue calçada em meio a uma matinha por mais 300 m até o mirante do vértice, que é o local onde o cânion começa. Desse ponto é possível avistar por baixo dos galhos das araucárias o cânion se prolongando no horizonte.
Continuando, depois de uma leve descida, já sem pavimentação, mas com solo firme e alguns degraus construídos, chega-se do outro lado do córrego, em frente à Cachoeira das Andorinhas. Nesse local, de um dos três mirantes é possível ver cerca de 70% da queda de água.
Caso o tempo fique fechado, vale a pena esperar alguns minutos até uma hora. Pois a viração abre pequenas janelas que além de permitir a visualização dá um charme especial à vista.
Pela trilha da esquerda, uma pequena placa marca o caminho para a casa dos senhores tradicionais que servem um café até às 17:00 aos interessados.
Trilha do Cotovelo
Relativamente mais longa que a trilha do vértice, essa tem cerca de 6 km (ida e volta). Se não é a trilha mais emblemática de toda a Serra Geral, pelo menos é a mais lembrada, e/ou postada na rede social.
Sai pela direita do centro de visitantes, transpondo por uma ponte de madeira o rio e segue uma estradinha de terra bem cortada. Depois de um dois quilômetros chega-se a uma base de apoio da administradora que conta com banheiros e uma área de descanso com bancos.
A partir daí toda a borda do cânion é exposta, passando a trilha a percorrer alguns centímetros apenas dos “peraus”. Mas tudo é seguro, pois a todo momento uma cerca de 1,1 m protege de eventuais quedas.
Ao percorrer essa borda é provável que o caminhante presencie o bailar das nuvens que em segundos vêm e vão escondendo e revelando detalhes incríveis da paisagem. lá no fundo corre o Rio do Boi, e também a outra trilha que entra no cânion desde Praia Grande. Aliás essa é uma curiosidade, pois a borda superior do Cânion Itaimbezinho e toda a Serra Geral estão no estado do Rio Grande do Sul e a parte interna ou de baixo está em Santa Catarina.
No primeiro mirante, à esquerda está a Cachoeira Véu de Noiva, que quase some ao rolar nas pedras. Já no segundo mirante dá para ver a garganta do cânion, que lembra um labirinto sufocando o riacho pedregoso lá no fundo. De acordo com a luz do sol a forma como as paredes são iluminadas são um espetáculo à parte.
O terceiro mirante está bem acima do cotovelo, que é o ponto onde dois cortes do cânion se entrelaçam e formam uma imponente galeria. Mais à frente fica o último mirante com uma espécie de bancos feitos no solo com ajuda de troncos e que dá de frente para a garganta.
No outro lado da fenda é possível ver as cavernas formadas pelo desprendimento de blocos da rocha. Bem à esquerda, na direção do centro de visitantes, a vegetação cravada nas paredes dá a impressão de ter formado o desenho de um coração.
Nossa passagem pelo Parque Nacional pode ser acompanhada aqui nos diários de viagem.
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