Estamos em Praia Grande, no nosso quarto dia de estrada. Já vivemos boas experiências que podem ser acompanhadas nesse post: Road Trip em Busca do Sol - Cânion Itaimbezinho, Cânion Fortaleza.
Dia Quinto - Tentando voar de balão.
Levantamos às 03:00 para estar às 03:45 na agência responsável pelo voo que contratamos. Não havia como ficar muito animado, toda a cidade de Praia Grande estava encoberta por neblina, mas o agente nos garantiu que deveríamos ir para o campo de voo e havia grandes possibilidades decolagem. Eu estava bastante cético, no aplicativo Weather marcavam nuvens até os 1700 m (5500 pés), mais alto que os platôs de cima da serra. Contudo estávamos lá.
Assim que o segundo casal chegou, no carro da agência fomos levados até um pasto a cerca de 5 km da cidade. O lugar é um gramado irregular bem seco. No entanto, por ser próximo aos campos alagados de arroz, estava tomado por pernilongos. Nuvens nos atacavam impiedosamente. Nem usando repelente as coisas facilitaram.
O piloto acabara de chegar no local, já foi nos alertando sobre as reais possibilidades de não ter o voo. Para ser mais justo com ele, estava nos avisando que não pretendia voar naquelas condições. Uma porque a visibilidade seria muito ruim. Outra, e principalmente, devido aos riscos envolvidos em um voo às cegas. Após se apresentar, explicou os riscos envolvidos; a chance de ter que fazer um pouso com menos de 20 min de voo (a agência prometia 40 min), a visibilidade ruim, e o risco de, subindo além dos 1500 m, ser acometido por alguma corrente de vento e depois ter problemas já que a visibilidade mesmo depois dos 1700 m não seria a ideal.
Ao saber que o outro casal estava comemorando uma data importante, o piloto deu uma dura no agente por não ser claro com os clientes dos riscos envolvidos, e prometer algo que não poderia garantir. Deu para entender que para a agência o importante era colocar o balão no ar, sem importar muito com a experiência do cliente, e até mesmo sua segurança.
Quarenta minutos depois outra agência chegou no mesmo campo de voo. Eram um grupo bem maior. Já chegaram montando o equipamento, enquanto os candidatos a voar tiravam fotos o balão foi enchido. O piloto nosso conversou com o outro, o que de para perceber é que o outro voaria independente das condições, colocando o nosso em uma saia justa. Sob essas circunstâncias, e considerando que o outro casal estava bastante decepcionado, o piloto se propôs a decolar sem compromisso com o tempo de voo, ao que ninguém se opôs. Eu apenas apontei que se fosse arriscado, colocasse a segurança em jogo, preferia não ir. Mas ele disse que qualquer coisa pousaria logo em seguida, antes de colocar as pessoas em risco.
Encher o balão foi muito rápido, em 15 min estávamos decolando.
A sensação é bem diferente, aos poucos vamos saindo do chão, começamos a ver as coisas do alto. É diferente que um voo de avião, aqui planamos sobre a vegetação entre 300 e 600 m. De início ficamos apreensivos com medo de olhar para baixo, mas aos poucos o medo vai dispersando, e na segurança do cesto começamos a aproveitar melhor o visual.
Diante das condições o piloto não passou dos 600 m, na verdade, acima dos 400 m já ficava bastante comprometido o visual. É importante pontuar que nessa altura, 400 - 600 m, só temos visual abaixo. No horizonte não vemos nada além do denso nevoeiro.
O outro balão decolou quase ao mesmo tempo e aos poucos foi subindo até sumir nas nuvens acima. Pelo rádio deu para entender a conversa entre pilotos, o outro balão já estava a 1600 m sem visual nenhum, abaixo, acima ou no horizonte. E para assustar pegara algumas correntes de vento. De início, a justificativa do outro piloto agência era subir até passar as nuvens e ver o nascer do sol sob o tapete de nuvens, no entanto, ao que sabemos, não conseguiram passar as nuvens. Ao menos soubemos que pousaram com segurança. Acompanhei o Instagram da agência e não vi nenhuma foto daquele dia.
Nosso voo progrediu sobre os campos de arroz, hora descendo um pouco para desviar de uma massa mais densa, outra subindo. Durante a subida, quando o gás é ativado, o calor que se dissipa no balão também incomoda quem está no cesto, nada que chegue a causar queimadura, mas é uma rajada de ar quente considerável. Depois de 15 min de voo começamos a descer em direção a outra pastagem onde a equipe esperava. A descida foi tranquila e o piloto fez de tudo para agradar, mesmo depois de estar no chão deu toda atenção e se dispôs a fazer centenas de fotos de cada casal. Ele dirigiu cada foto como se fosse um fotógrafo profissional.
O piloto foi incrível, além de prudente, fez o máximo para tornar uma experiência frustrada em algo palatável. Em relação a experiência com a agência e o negócio como um todo, ficamos frustrados. O agente nos largou na cidade da mesma forma como buscou, nem fez muita questão de dar atenção. Um serviço muito precário pelo custo, na média R$ 700,00 por pessoa. Ficamos com a impressão de que o importante para os operadores é colocar o cliente no ar e recolher o pagamento, independentemente da experiência.
Voltamos para o hostel, onde a experiência fora bem melhor. Ainda eram 06:45, ficamos na cozinha dos fundos brincando com os gatos até que uma das proprietárias trouxe o café da manhã. Bem simples, mas feito com carinho e capricho. Conversando, quase resolvemos fazer a trilha Rio do Boi, guiada também pelos proprietários, mas acabamos mantendo o roteiro com sentido ao litoral.
Voltaremos à Praia Grande em breve, afinal a cidade oferece muita coisa no mundo outdoor. Ela está banhada pelos principais cânions da divisa entre Rio Grande do Sul e Santa Catarina, são inúmeras cachoeira e dezenas de trilhas, além dos rios de água cristalina, gélida e praias que dão nome ao município.
Pegamos a estrada às 09:00, mas antes de sair na rodovia paramos na praça central, muito bem cuidada por sinal. As luzes do Natal já tomavam a cidade de ruas bem cortadas e construções robustas, algumas muito antigas, que remetem ao passado dos tropeiros. Um detalhe que nos chamou atenção foi o entalhe na praça que reproduz os contornos dos cânions, à primeira vista aparenta ser um monte de terra, mas ao olhar com atenção vemos os cânions e os rios que margeiam a cidade.
Pegamos a SC 290 que cruza São João do Sul antes de sair na BR 101 Sul. Na 101, margeamos a Lagoa de Sombrio e logo depois de cruzar a fronteira e o povoado Vila São João saímos na saída 3 em direção a Torres.
Chegando em Torres ficamos surpresos com a imponência da cidade. A primeira vista, parece uma capital com edifícios imponentes e modernos, ruas movimentadas e um ar litorâneo muito peculiar. A pesar de parecer uma grande cidade, na verdade não possui mais de 40 mil habitantes. Toda aquela imponência é devido ao grande volume da população flutuante na temporada de verão, que chega a 240 mil habitantes.
Chegamos direto na Prainha central de Torres. Uma curta faixa de areia com a orla toda gramada e um visual tentador das falésias do Parque da Guarita. Esse parque é, afinal, o motivo por estarmos aqui. As praias de Torres, têm sua beleza paisagística, contudo sua água e areia não são tão convidativas, como poderemos perceber nos próximos dias que ficaremos por aqui.
Próximo diário: Road-Trip em Busca do Sol - De Torres à Palhoça.
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