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Foto do escritorJonas Silva

Travessia Lagamar, Solo


Praia da Enseada da Baleia, descansando depois de 23 km caminhados

Caminhar 70 km debaixo de sol forte, sozinho, uma sincronia; homem natureza. Esse foi o desafio que me propus no finalzinho do ano de 2019.


Pensamentos se dissipam como o calor sobe do tapete fragmentado

O céu se mistura com o oceano assim como o tempo e o espaço.


Mudança nos planos

Eram 05:45 quando saí da barraca no camping, a primeira notícia que recebi, teria de seguir sozinho. A minha parceira de travessia precisou abortar a missão. Para todos os casos fomos juntos ao píer de Cananéia onde deveria conseguir uma voadeira até a Praia do Cambriú. Como a logística para começar a travessia é bem complicada esperava conseguir um barco de turistas que aceitasse me deixar na praia, para tanto precisava contar com a sorte de haverem mais pessoas com interesse de visitar alguma ilha ali nas proximidades. E como o preço do barco era bem salgado (R$ 700,00), sozinho não rolava, em dois era mais fácil conseguir outras quatro pessoas ao menos, na entanto esse plano esteva a deriva comigo sozinho.

Parceiro de espera

Sentado no píer, as horas passando. Saíam barcos para todos os lados, exceto para o mar aberto. Tudo seria mais melancólico, não fora um cãozinho que esgaravatava pelo barranco. O animalzinho resolveu me adotar e hora deitava em meu colo, outra, entrava por debaixo dos meus braços. Custei dar-lhe a devida atenção, sabia que teria de abandoná-lo logo. Por fim não resisti e curti o momento, por horas brincamos e dormimos juntos.

Às 09:00 resolvi partir para o plano B, aceitando que o plano inicial não rolaria. Fui até uma dessas mesinhas que vendem passeio e perguntei pelo barco diário que ia até o Marujá. Ele sairia às 10:30, mas custaria apenas R$ 35,00, pelo menos isso. Com duas horas de duração da viagem a coisa não era nada animadora. Além de todo esse tempo, ir até a Vila do Marujá significava ter de percorrer, retornando, quase 13 km até o início da Praia do Cambriú, o ponto de start da travessia.

Eu cochilava na grama com o cachorro quando ouvi de relance alguns turistas procurando uma voadeira (barco de alumínio ou fibra com motor de popa, geralmente muito rápido) que os levasse até o Marujá. Perguntei a um agente, desses que ficam vendendo tudo em ponto turístico, se tinha lugar no barco e o preço. Para minha surpresa ele disse que me deixaria no Marujá por R$ 35,00, não tive dúvidas e falei que estava dentro - detalhe, não tinha comprado a passagem do barco porque a vendedora disse que ele só sairia se tivesse quórum. O pessoal enrolou mais um pouco e só saímos às 10:00. De coração partido deixei o cãozinho a me fitar do píer sem poder levá-lo.

Logo que o píer ficou para trás o barco perdeu força até que parou no meio do canal, à deriva. Pior é que o piloteiro, contratado, não sabia o que fazer. Começou um pânico nas senhoras que estavam junto, não conseguiam colocar coletes, choravam, queriam pedir socorro mas o telefone de ninguém funcionava, uma caos. Enquanto isso, eu ria da situação, no pior dos casos seríamos rebocados por outro barco ou teríamos de remar até Cananéia novamente. Passavam muitos barcos apressados gerando ondas frequentes, agravando a situação na embarcação parada. Ninguém prestava socorro, bom até sair do estado não tive experiências muito boas com pessoas, exceto uma.

Quando ritmo dos barcos diminuiu, a água tornou-se um espelho e pudemos avistar muitos botos saltando a poucos metros. Um visual digno de cinema; o espelho de água refletindo a Serra do Mar e o céu azulado ondulado apenas com o gracejo dos visitantes.

Botos fazendo graça com a Serra do Mar aos fundos

Novos barcos começaram passar. Uns 20 min e o primeiro a parar não pode ajudar muito, apenas disse que chegando no píer relataria a situação para o dono do barco que viesse nos resgatar. Num lance de lucidez o barqueiro resolveu virar a chave da gasolina e o barco pegou novamente, todo faceiro (depois da lambança) ele reiniciou a viagem. Eu não sabia mas aquele barco iria fazer um tour pelo canal. Não adiantava espernear, já estava nele. Acompanhei a visita ao sambaqui (melhor, um pedaço dele), depois fomos ao mangue ver os guarás. No final, até fiquei feliz por ter ganho todo esse passeio de brinde, as pessoas estavam pagando pelo menos R$ 50,00 por ele.

Desci no píer do Marujá às 11:50. Passei entre as casinhas e segui uma pequena abertura na restinga. Dez minutos depois estava na areia rumando para o norte, na derradeira caminhada adicional de 13 km. Da Praia do Marujá até o costão de pedras são 4 km, o único lugar que encontrei pessoas além do Cambriú neste dia. A caminhada se desenvolveu muito bem, eu estava descansado e ansioso. Até o costão de pedras passei voando, só tive paciência de conferir se tinha água na única bica do trecho.

Depois do costão entrei pela primeira vez na Praia da Laje. Uma faixa de areia semicircular de 6 km. O Sol a pino castigava, e não demorou para o psicológico testar. Tinha a impressão de estar caminhando a horas, e a outra ponta parece que se distanciava cada vez mais. Para piorar a restinga intransponível não deixa nenhuma sobra acessível. As duas horas por esse pedaço de areia pareceram uma eternidade.

Barquinho ancorado na Praia do Fole

Chegando do outro lado tive o prazer de observar a beleza dessa praia, a areia clara distorcida pelo calor e emoldurada pelo verde da restinga e o azul claro do Atlântico, de tirar o fôlego. Do outro lado da pequena porção de trilha entre os arbustos o cenário era completado por um pequeno bote ancorado na areia, perecia de propósito. Descansei algum tempo e segui, transpondo a Praia do Fole e Fole Pequeno. Nesta última, entrei pela trilha à esquerda bem no cantinho e contornando o morro até sair na Praia do Cambriú.

Até esse momento, eu sabia que o Cambriú era deserto, com apenas casebres de pesca temporários. Não foi o que encontrei. Umas cinco casas e moradores não muito receptivos. Numa das casas que tinha placa de pousada, depois de perguntas invasivas e uma espécie de burocracia moral (parecia que a recepcionista precisava pedir autorização para algum "capitão" antes de me receber) me venderam um gramado para acampar. Não perco tempo com a burrice alheia, montei a barraca e fui para a areia refletir sobre o dia. Das pedras no canto pude observar o único barco que chegou mais tarde, e alguns pescadores que correram ajudar o barqueiro a descer alguma tralha. Logo as nuvens tomaram a montanha ali atrás dando ao local um aspecto triste, animado apenas pelos guaipecas (cachorrinhos vira-lata) que corriam felizes atrás das gaivotas.

Depois de pagar as taxa do acampamento ninguém mais falou comigo, apenas me olhavam de longe, como se me vigiassem. Ao menos não me incomodaram durante à noite.


Começando literalmente a Travessia Lagamar

Como a recepção foi "calorosa" não tinha motivos para esperar ninguém acordar no segundo dia. Às 05:40 já estava de mochila pronta e alimentado. Segui para a Praia do Fole Pequeno de onde presenciei o Sol colorir a Ilha do Bom Abrigo em tons de ouro. Parei, apreciei o momento por alguns minutos antes de continuar.

Fotografando com o Sr. Wilson na Praia da Laje

Retornado a Praia do Fole (grande) avistei na orla da mata uma placa branca onde dava para distinguir, bem nítido, o desenho de uma galinha. Não tive dúvida e fui até lá. Era a indicação de um camping dentro da restinga, dei uma espiadela e não avistei ninguém, nenhuma estrutura, então segui adiante. Chagando a Praia da Laje a lembrança era dolorida do dia anterior. Passo a passo fui vencendo a imensidão, lá pelas tantas, encontrei uma bola trazida pela maré, me senti o Tom Hanks conversando com o Sr. Wilson do filme "O Náufrago".

Com a ansiedade controlada, o Sol ainda tímido e os gracejos do achado, que dei conta tinha chegado no costão novamente. É incrível como a mente nos prega peças, o fato de estar ansioso e o cenário daquela praia me torturaram no dia anterior, mas nesse dia nada.

Subi a encosta me afastando da beleza dos contornos da Praia da Laje. Quando presto atenção ao Sul, esqueço a praia anterior. Pela lateral do costão a imensidão de areia que segue até o Paraná impressiona, a mistura de céu e mar fazem as primeiras gotas despencarem no meu peito. Vários minutos preciso para retomar a marcha, captar fotos e gravar alguma coisa. Mergulho entre as pedras e a caminhada se transforma num caos, é um sobe e desce desgraçado, rochas lizas, um cheiro de peixe insuportável, mas é preciso seguir. Quando as coisas começam a melhorar encontro a bica de água, desço a mochila e praticamente tomo um banho. Cantis cheios, energia revigorada, retomo a marcha.

Lá embaixo, no meio das rochas duas plaquinhas desviam meu curso. Com dificuldade cheguei nelas, eram cortiças laranjadas com a inscrição: "Ligue, acaso encontre e um contato". A imaginação voou longe, seria um pedido de socorro, um aviso daqueles de livros de ficção, ou uma trapaça. Esses pensamentos ocuparam boa parte dos meus dias até o final da Travessia.

Parada frustrada para descanso

Saí no Marujá já com Sol castigando. Encontrei os primeiros banhistas, e depois muitos mais deles. Alguns curiosos me abordavam fazendo perguntas, outros desejavam boa viagem. Lentamente foi deixando-os para trás. Sozinho novamente resolvi para para descanso. Sentei num tronco quase engolido pela areia, mas, minutos depois rachei de rir e parti. Como que alguém consegue descansar sob um calor de 38º C sem uma mísera sombra.

Quilômetros à frente, estou observando a quantidade de lixo na restinga, são toneladas de plástico, isopor e vidro trazidos pelas ondas. De repente outra placa, hoje é o dia das placas. Dessa feita o aviso dizia "Restaurante", como assim? Restaurante! Estou no meio do nada, o Marujá à 4 km atrás e a Enseada da Baleia a 6 km à frente. Não entrei na restinga para conferir, apenas capturei uma foto e segui minha jornada.

Num ritmo intenso, cheguei na Enseada da Baleia às 11:00. Caminhei 23 km em cinco horas. Descubro então que a antiga vila não existe mais, apenas destroços abandonados. O mar avançou rápido cortando para o canal e as pessoas mudaram largando até mesmo roupas para trás. Bate uma certa preocupação, eu esperava conseguir alguém na Enseada que me deixasse do outro lado, e agora? Teria de voltar os seis quilômetros até o Marujá. Com calma me dirigi para o lado do canal e vi uma bela praia branca com raízes de mangue, incrível. Não tive dúvidas, tirei a roupa tomei um banho e deitei na areia tirar uma soneca (foto de capa).

Cerca de uma hora depois acordei com o motor de um barco se aproximando. Ele parou a poucos metros de mim entre os arbustos. esperei um pouco e fui ter com o piloteiro. Era o Pedro, um jovem de São Paulo que estava passeando de barco por ali, não poderia me deixar do outro lado, pois seria preciso pegar o Canal do Varadouro, no começo achei que era papo dele, mas a tarde pude conferir que ele estava certo. Pedro se ofereceu para me deixar na Vila da Baleia (nova), aceitei. Me disse que iria lavar o barco mais acima no canal, se quisesse ele passava na volta me buscar, preferi ir junto, kkkkk, vai que... No final o Pedro foi a única pessoa muito receptiva e bem humorada que encontrei do lado paulista. No píer da Nova Vila da Baleia procurei alguns pescadores que disseram para ir no bar que lá encontraria alguém que fosse até a Barra de Ararapira e poderia me levar.

Píer da Nova Enseada da Baleia

Cheguei no Bar, que também é restaurante e receptivo turístico, me falaram que o dono era piloteiro. Comprei duas águas e fui falar com o dito cujo. Grosseiramente me respondeu que custaria R$ 50,00, e só me levaria porque tinha de buscar umas pessoas na Praia de Pontal do Sul, então mandou que eu esperasse ali no gramado. Sem ressentimentos deitei no gramado brincar com um vira-lata magro que passava por ali. Comecei a pensar desconfiado, pois eu nunca havia ouvido sobre esse Pontal do Sul. Mas, eu estava ali e se ele fosse sair de barco eu iria junto.

Já estava quase desistindo quando eram 16:50 e o homem foi para o barco. Ajudei a desancorar a voadeira e partimos, lá pelas tantas da navegação que durou 40 min, ele falou que a antiga Barra de Ararapira tinha fechado e agora era o Pontal do Sul, se eu queria ficar no Pontal ou na Barra. respondi que seria indiferente desde que eu ficasse onde chegaria a Praia do Superagui sem precisar de outro barco. O cara me deixou em um píer e antes de eu perguntar qualquer coisa para os pescadores ali, zarpou. Fui entender, deixara-me na Vila de Ararapira, sem acesso à Praia Deserta do Superagui, exceto usando barco.

Fiquei puto, mas contornei. Acabou que o Márcio tem um camping ali e uma pousada. Acampei com direito a banho quente, pude apreciar o pôr-do-sol do píer.


A cavalo pelo Superagui?

Me coloquei de pronto às 05:00 do terceiro dia. Corri para o píer conferir a maré, segundo o pessoa da vila com a maré bem baixa é possível cruzar o rio no canto da Barra e seguir sem barco. Percebi que chegar a Ponta do Superagui caminhando por seria difícil com uma cargueira de 16 kg, a maré alta, e molhar meu equipo poderia deixar-me em maus lençóis. Me restava sentar no píer e esperar algum pescador caridoso aparecer e me deixar em Pontal do Sul, de onde poderia chegar à Ponta sem problemas, pois o antigo Canal de Ararapira não existe mais.

Uma hora depois um pescador me deixaria do outro lado. Esse tempo de espera foi de uma paz incrível, uma sensação de espiritualidade sem explicação. Sob a lâmina da água do canal, estática sem o movimento dos barcos, o firmamento todo se refletia num azul perfeito, algumas nuvens torneadas pelo Sol pareciam brincar com a luz.

Amanhecer do Píer da Barra de Ararapira

Na areia firme o do outro lado comecei a jornada mais uma vez. Fui até a divisa dos estados marcada no GPS, fiz aquele traço no chão e brinquei com a burrice que são os limites impostos por homens de terno em salas climatizadas, homens que nunca nem foram a lugar nenhum, homens que pagam outros homens a lutar por eles enquanto enchem a pança de ovas podres e carnes de animais à beira da extinção.

Se tratando animais, logo um caranguejo me chamou a atenção. Com alguma lua peguei o bicho que tentava a todo custo me atacar com sua pinça. Complacente deixei o animal na areia, caminhei algumas centenas de metros na Praia de Pontal do Sul e só então garrei para o Paraná.

Pouco metros, sentido Sul, esfrego os olhos, uma vez, duas vezes, credo. Estou vendo um cavalo na areia? É isso mesmo, aqui não tem morador, um cavalo? Pensei que poderia ser uma miragem sim, mas ao aproximar-me verifiquei que realmente era um potro, aparentando muito cansaço. Ele chegou-se a mim mendigar carinho. Depois de conversarmos um pouco, tive de deixá-lo para trás, de coração apertado. Nos meus pensamentos pedi a Francisco Xavier que vigie por ele.

A Praia Deserta de Superagui sumia na curva do horizonte e lá vou eu por longas horas de caminhada. Uma parada na única sombra acessível, da restinga, para repor as energias. Eram ainda 09:30 quando passei pela placa oferecendo bebidas e pastel, indicativo de haver uma morada. Sabia que naquele ponto já devia ter caminhado uns 12 km. Às 11:00 avistei alguns transeuntes, ao cruzarmos, indicaram estar hospedados no Camping da Dona Rosa ali perto. Estava bem fisicamente e ainda era cedo, resolvi continuar, mesmo sabendo que já tinha caminhado os 20 km previstos do dia.

Ao cruzar um dos filetes de água que corriam da restinga para o Atlântico molhei a bota internamente, erro tosco, porém, grave, isso me custaria muitas dores na sola do pé durante a tarde. Segui sempre em frente, imerso naquele ambiente, homem, mochila, areia, água e nuvens eram uma sinfonia perfeita. Às 13:30 encontro banhistas, indicando que estava na entrada da trilha que leva a Vila do Superagui. É a Praia Deserta não é tão deserta assim. Sabia que faltavam pouco mais de 6 km para a vila, agora, apesar da dor do pé eu não pararia sem chegar lá. Logo depois da curva do Oceano a Ilha do Mel deu sua graça.

Faltavam vinte minutos para às quinze horas quando entrei na primeira rua da Vila do Superagui. Encontrei um camping ainda em formação, da Dona Kelli que me recebeu com bom humor, mostrou a estrutura do lugar, ofereceu pastel e refrigerante. Pedi uma coca cola, é incrível como desejamos essas coisas artificias nessas situações. Tirei cargueira e a bota, meus pés ardiam, montei a barraca, e de banho tomado dormi um tanto.

No final do dia fui para o píer esperar o pôr do sol, foi um verdadeiro show do Astro Rei. O cenário ficou ainda mais belo com os botos que caçavam cardumes por ali, e o tempo todo apareciam na superfície entre os barcos. Foi o dia mais emocionante, acordar e ver a aurora no píer, repetindo a dose à tarde dessa forma.

Pôr do Sol no píer da Vila do Superagui

Parado também viajamos

Levantei como de praxe às 05:00, para minha surpresa a dor nos pés quase sumira e nenhuma bolha apareceu. Preparei a farofa (ovo com farinha) e o café. De barriga cheia desmontei acampamento. Logo o esposo da Kelli apareceu e como havíamos combinado no dia anterior me levou até o outro lado onde começava o último trecho, 13 km até a Vila das Peças

Com a bota nas mãos, para aliviar a dor restante dos pés, lá fui. O tempo todo a Ilha do Mel vigiava meus passos, além dela somente árvores mortas e restos de navios espalhados pela areia. Cheguei no farol caído às 09:00, a poucos metros do outro lado a Fortaleza Nossa Senhora dos Prazeres é testemunha há séculos dos tantos navios que passaram pelo canal.

Parei para repor as energias, e fui surpreendido por mais uma dança dos botos, dessa vez usei o binóculo para melhor apreciá-los. Bateria recarregada, logo avistei a Praia da Vila das peças cheia de gente. À minha frente um longo trecho mais baixo, aparentando ser mangue seco. Experimentei e pareceu ser firme, ledo engano. Minutos depois os pés começaram afundar, teimoso, ainda caminhei mais de 1 km naquela situação, com as pernas já trêmulas desisti de lutar e cortei infernais 200 m até beira da mata onde a areia era seca. Exausto segui para a Vila sonhando conseguir logo um barco para Paranaguá.

No píer conversei com todos os barqueiros e nenhum tinha vaga para ir até o continente, me indicaram esperar a embarcação que saía regularmente as 16:30. Foram mais 6 h de espera, parte deitado na sombra, outra sentado no píer vendo os golfinhos que sempre apareciam. Um dos piloteiros que havia dito que às 15:00 iria à Paranaguá, me deu o balão e não foi.

Às 16:00 encosta a embarcação vindo do continente, a euforia toma conta do píer, nesse momento me dei conta de quanta mordomia temos nas cidades, tudo muito acessível, chega a ser trivial. Para quem vive em uma ilhota a embarcação é que trás a esperança, os amores, a comida, os móveis, dá vida a Vila.

Barca rumando para o canal do píer em Paranaguá

Meia hora depois partia a embarcação para o marco final da Travessia, durante uma hora e meia, no embalo das ondas, vi mais uma vez o Sol se pôr. Dessa vez por detrás do Pico Marumbi dando um espetáculo de cores às águas, aos navios ancorados próximos ao porto, e também à doca onde um cargueiro enchia ou esvaziava o convés

Às 18:04 descia eu no Píer Municipal de Paranaguá, 70 km mais experiente (na verdade 83 km contando os 13 km de retorno à Praia do Cambriú). Foram dias intensos, de autoconhecimento, reflexões, oportunidade que só encontramos quando nos propomos a sair do comum e realizar coisas que nem todos realizariam.

Ter a experimentado a relatividade do tempo na ansiedade do primeiro dia e depois no terceiro dia. A intensidade da paz no píer de Ararapira. Contornar o mau humor das pessoas, e depois curtir a presteza de outras pessoas. Até mesmo o sabor artificial do refrigerante famoso, são sentidos que não sei quando serão vivenciados novamente, só espero que seja logo. Com certeza, ver a chegada da esperança e alegria num barco que aporta no píer, transformam nossa vida.


As placas

Assim que cheguei na cidade fui matar a curiosidade das plaquinhas. Liguei para o contato gravado nelas. E adivinhe: tratava-se de uma pesquisa sobre o movimento das marés. Eles me pediram as coordenadas e o dia em que encontrei as placas. São da UFES do Espírito Santo. No final, não eram donzelas procurando amor, rapazes mandando recados, ou alguém à deriva. Foi só minha imaginação fértil.

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